Descobri que não sei
ler. E que talvez, a maioria das pessoas também não saiba. Sei
juntar B com A e captar as informações dos textos e livros que
leio, mas captar informações é uma coisa, compreendê-las em seu
significado, interpretá-las e transformá-las em conhecimento, é
outra. Como muitos leitores médios, fui treinada a decorar fatos,
datas e não necessariamente entender o contexto por trás deles, ou
analisá-los. E no afogamento de dados que vivemos hoje, isso se
torna quase impossível. Você se lembra do trecho mais importante de
determinado capítulo ou de um artigo? E o que você aprendeu dele?
Como Adler, o autor do
livro “How to read a book”¹ ensina, fazemos o que ele chama de
leitura passiva. Você abre o livro, vai lendo página por página, e
quando acaba você simplesmente acaba.
Você não pára a
leitura em nenhum momento para pesquisar mais sobre aquele assunto,
ou pelo menos mais do que as páginas contêm.
Você não investiga,
você não duvida, você não relaciona um tema com outro.
Você simplesmente lê.
Diferente de falar ou
ensinar, escutar e ler podem se tornar ações passivas por não
exigirem esforços de aprendizado, apenas um mínimo de atenção.
Pois se nem atenção
conseguimos ter hoje, não admira que o formato mais popular da
Internet sejam os recursos visuais – como fotos e gifs animados.
Ler dá trabalho. E em um mundo em que se confunde informação com
conhecimento, para que ler se as respostas estão a um clique no
Google? Para que pensar se os algoritmos entendem suas perguntas
antes que você termine de digita-las? É preciso ler. É preciso
aprender a ler.
Nesse sentido, talvez os
meios digitais sejam uma plataforma poderosa para ajudar as pessoas a
aprenderem a ler de verdade. Um matéria do The Guardian², cita
experimentos recentes que buscam trazer novas formas de interação
entre obra literária e leitor, que vão além da apenas adição de
recursos previsíveis. Livros interativos que permitem ao leitor
explorar mais detalhes da narrativa se tiver vontade ou marcar as
seções que não quer ler; livros com trilha-sonora, com localizador
GPS, que poderia alterar o trecho do livro conforme sua localização…
as opções são muitas e por enquanto vagas, mas podem sinalizar um
interessante caminho para manter a escrita e a leitura de qualidade
vivas.
O escritor Will Self³ menciona na matéria as críticas que recebeu por ter feito um livro
sem a tradicional divisão por capítulos. Ele respondeu perguntando
se por acaso a vida era dividida em capítulos. Da mesma maneira que
as tecnologias têm alterado relacionamentos e a forma como nos
comunicamos, elas também podem muito bem reinventar as estruturas
narrativas atuais. E por que não, torná-las mais interessantes?
Quem sabe em nova forma,
clássicos voltem a ser lidos e influenciem uma geração cuja
principal forma de leitura diária não costuma passar dos 140
caracteres.
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